If All Time Is Eternally Present

A fotografia desde o seu início, meados do séc. XIX, assumiu de alguma forma o estatuto de espelho ou reflexo dessa época de profundas transformações. O desenvolvimento da fotografia na procura de qualidade na imagem e agilidade temporal na sua concretização, trouxe com ele o aparecimento de valores que ficaram para sempre colados à fotografia, como sejam, o registo ou cópia do real, a simulação da instantaneidade, que serviram como base de apoio ideológico e fundamentação a essa mesma fotografia.
Desde logo, Daguerre percebe que a fotografia nem sempre retrata o real, como no exemplo do teatro Boulevard du Temple, (1838) em que se apercebe que não consegue mostrar a vida real existente no mesmo.
Com esta representação documental e ficcional, Daguerre ampliou a flexibilidade da nossa capacidade imaginativa. No histórico, a interpretação dessa imagem demostra que a fotografia já nasceu com uma dupla faceta, notarial e especulativa, de registo e de ficção.
Da compreensão histórica da fotografia, três ideias ressaltam, registo, ficção e imaginação, que assumo como âncoras do processo criativo desta série fotográfica, If All Time Is Eternally Present.
If All Time Is Eternally Present, nasce na ideia de que a fotografia tem uma relação com o passado inteiramente temporal, é uma suspensão de um determinado tempo, um registo. Quando me surgem imagens e sou confrontado com esses restos de tempo, as fotografias estão carregadas de um passado, de um tempo não concluído.
No Séc. XVII Newton cria leis determinantes sobre a matéria e já no Séc. XX, Albert Einstein vem revolucionar tudo até aí compreendido, com a sua teoria da relatividade geral. Mais tarde, Edwin Hubble avança com a prova do universo em expansão, assim chegamos à mecânica quântica e os entendimentos dividem-se entre um universo estático, ou em expansão. O universo em expansão, conceito que me é próximo, é um organismo em constante transformação, onde eventualmente partilhamos todos, partículas que tenham tido a sua origem no Big Bang. Fascina-me a ambiguidade latente nas imagens criadas, a probabilidade da existência de duas realidades antagónicas, os códigos visíveis e invisíveis presentes nas imagens paradoxais, Richard Feymman afirmava que, “O “paradoxo” é apenas um conflito entre a realidade e aquilo que nós pensamos que ela deve ser “.
Ao olharmos uma imagem e ao relacioná-la com o passado, estamos a fazê-lo
de uma forma temporal, cronológica, no entanto, se tentarmos relacionar o que ela nos mostra, com o agora, essa relação já se torna na dialética de Walter Benjamim, dialética não temporal, mas de natureza imaginativa.
Enquanto ser humano, sou o resultado de todas as imagens que me rodeiam no meu dia a dia, que me contaminam, a ambivalência entre o palpável e a imaginação. Julgo ser aí, nesse espaço entre o presente e o ausente, que nasce muito do trabalho que procuro realizar, quando crio novas fotografias sobre outras já produzidas, quando desmonto e desfragmentei-o algo que, vai para além das imagens visíveis e entra no imaginário não visível dessas mesmas imagens.
O imaginar não se situa temporalmente como a visão, o imaginar surge por mecanismos completamente distintos. “Imaginar algo”, essa imagem surgirá quando e da forma que entender, no entanto, “ver algo”, é a imagem de resposta ao mundo que nos rodeia. Notam-se aqui diferenças radicais, ou seja: ver, obedece e está sujeita ao tempo é a visão da imagem que condiciona o comportamento, imaginar, por seu lado, está livre desse condicionalismo, tem liberdade total de quando e de que forma se manifesta.
A Imagem terá então o poder e a virtude de fazer a mediação com o campo afetivo, conseguindo através da sua visualização, transportar-nos para o mundo do imaginário. Na imaginação, “não vemos porque não queremos ver” e aí, trata-se com certeza de uma construção individual da imaginação do individuo e não de uma construção feita pelo mundo, o que irá aumentar imenso as possibilidades dos acontecimentos.
Este corpo de trabalho, All Time Is Eternally Present, ao ser contaminado pelas ideias de registo, ficção e imaginação, conceitos inerentes à fotografia tal como ausência e presença, assim como, o movimento associado, remetem-nos para o mistério dessa mesma fotografia, pelo que, para compreender e desvendar esse mistério, só recorrendo às ficções, conseguimos dar corpo e descodificar as nossas experiências reais.

“São precisamente as ficções o que nos permite estruturar a nossa experiência do real.”   Slavoj Zizek